21.3.10

Os 10 Mandamentos da Dieta de Jesus


1. Diminua o sal
2. Diga não aos doces e sim às frutas
3. Tome uma taça de vinho por dia
4. Evite o pão branco
5. Troque o açúcar branco por mel ou fructose
6. Coma menos carne
7. Tome uma colher de azeite de oliva extravirgem no desjejum
8. Substitua refrigerantes por chás
9. Não coma frituras
10. Durma sempre com as luzes apagadas e a tevê desligada


20.3.10

meu pai, 1965

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Eu nunca estive em Lyon. Mas então a Flora, que é artista plástica, mandou a foto abaixo, parte de um trabalho que ela inscreveu em um programa de residência na França. Ela pediu para que diferentes pessoas escrevessem textos a respeito da obra, só a partir de fotos, sem saber NADA sobre o que diabos é a obra.

Pensei no chapéu de Stanley A. Perkins ("em 30 de janeiro de 1978, Michigan foi devastada por uma grande nevasca e Stanley A. Perkins perdeu seu chapéu"), e porque chapéu me lembra disco voador.


Contato imediato, 2008

Em 30 de janeiro de 1978, Michigan foi devastada por uma grande nevasca e Stanley A. Perkins perdeu seu chapéu. O mundo nunca mais foi o mesmo. Além do mais as pessoas são feitas de cabeça, tronco e coisas -- as coisas se misturam às pessoas, as pessoas se misturam às coisas, confundindo tudo. O chapéu era um pedaço vivo de Stanley (ou Stanley era um pedaço morto do chapéu).

Depois do almoço, Flora e eu saímos para fotografar a obra. Era a nossa primeira vez em Lyon. Os três obstáculos de cimento estavam lá, como havíamos visto pela manhã. Flora olhou o relógio. Estava quase na hora de a quarta pedra pousar. Porque o mundo está lotado de objetos, mais ou menos interessantes, disse Douglas Huebler. Alguns somem, outros aparecem. O chapéu de Stanley A. Perkins, por exemplo, voltou para o seu planeta. Os hidrantes e os telefones públicos também, começam a tomar o caminho de volta. Flora posiciona a máquina: se forçar a vista, dá pra ver o granulado das naves de cimento. Quando dispara, a foto tem um som metálico. Meu pai esteve na cidade, em 1965. Na época, Lyon não tinha obstáculos para proibir os carros de estacionarem. Penso que essa foto era impossível; a imagem que a Flora me mostra no visor da câmera não existia, só passou a fazer parte do mundo agora, quando o último dos quatro objetos pousou no asfalto de Lyon.

Um quinto objeto seria redundante, a Flora me diz. O artista não poderia criar um quinto objeto, só podemos aceitá-los e, quando muito, registrá-los. As pessoas podem tropeçar nos objetos (um degrau sobressalente na escada, por exemplo). O artista deve ouvir em silêncio, registrar; ninguém nunca tropeçou numa foto. Mostro a foto para o meu pai. Quando ele esteve na cidade, em 1965 (ele dirigia um Volks), Lyon não tinha os quatro robôs de cimento. Ele me diz que não reconhece Lyon na foto (e comenta que há manchas no chão). Digo a ele que é uma obra de arte, em Lyon. Corrijo: é a foto de uma obra de arte, em Lyon. Ele sai da sala e volta com uma foto da cour d'honneur do Palais Royal de Paris. As colunas de listras pretas e brancas de mármore, onde as crianças brincam.

O escritor polonês Witold Gombrowicz, em 1947, em um convescote em Buenos Aires, disse que não existe nenhum elemento específico capaz de definir um texto como poético. A noção de função poética da linguagem, criada por Jakobson, uma função específica que se manifestaria na atividade poética e que implica em certa distância com relação ao uso normalizado da linguagem, essa noção nunca existiu. Nenhum elemento na linguagem possibilitaria essa função poética. Meu pai volta à foto de Lyon, os quatro alienígenas de cimento, no asfalto. Agora diz que é uma obra de arte. A disposição para ler poeticamente, segundo Gombrowicz, é o que constitui um texto como poético. É uma disposição, não uma essência. O significado da foto que a Flora tirou em Lyon seria fruto de uma disposição. E de um contexto. Se os obstáculos de cimento tivessem pousado sobre a catedral de Notre Dame (para continuarmos na França), o significado seria outro. Num texto de 1952 sobre a metáfora, Borges escreveu: "Sempre desconfiei que a distinção radical entre poesia e prosa está na expectativa diferente daquele que lê." Ou seja, tudo se move. Não existe uma essência das imagens nem dos textos, há apenas maneiras de ver e ler.

Em tempo: o chapéu de Stanley A. Perkins não foi encontrado.
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19.3.10

Linhas e Planos


Em um domingo qualquer em minhas andanças pela Av. Paulista entrei no Conjunto Nacional para tomar um café e eis que me deparo com a exposição de um cara genial, o Lothar Charoux.

Lothar Charoux nasceu na Áustria em 1912 e desde muito jovem iniciou sua carreira artística. Veio para o Brasil em 1928, e em 1930 matriculou-se no Liceu de Artes e Ofícios. Lá conheceu Waldemar da Costa. Nos anos 50, Charoux aderiu ao concretismo concentrando seu interesse ‘na linha que se desloca no espaço’ definindo o próprio a geometria. Desenvolvia seus trabalhos com nanquim e tira-linhas.

Na década de 60 até sua morte, dedicou-se ao cinestismo virtual. E como artista concreto interessou-se pela seriação e pelo múltiplo. Trabalhou muitos anos com azulejos e objetos, partindo para a serigrafia para multiplicar os seus trabalhos.

É extremamente interessante ver as obras de Lothar Charoux e entender o momento em que suas obras foram criadas, em uma época onde a computação gráfica não existia, trabalhar com tamanha precisão e incrivelmente admirável. Sou extremamente curiosa com trabalhos ligados a geometria e a repetição e ver um artista criando peças manualmente e de forma tão precisa foi emocionante.